Filipe Rangel é repórter esportivo em Cabo Frio. Estudante do curso de Comunicação Social na Universidade Veiga de Almeida (UVA), Filipe escreve para o site www.futnet.com.br e é comentarista no Programa Na Jogada e também na rádio Ondas. Passou pelo Programa Espião do Jogo.
Já virou capítulo fixo na história da Libertadores: pancadaria generalizada, aprovada e incentivada pela torcida presente no estádio, ignorada pelo policiamento pelos primeiros cinco minutos, e geralmente protagonizada por brasileiros versus qualquer outra nacionalidade.
Até a Copa Sul-Americana, competição mais branda condizente com sua importância mais branda, entrou na roda. Em 2009, após a eliminação do Cerro Porteño diante do Fluminense, em pleno Rio de Janeiro, os paraguaios partiram para o braço. Como se fosse resolver alguma coisa. Como se um chute na costela do companheiro de profissão passasse a valer mais que um gol.
E o Fluminense voltou a ser vítima da ignorância sul-americana, desta vez em uma competição mais nobre. Ao se classificar, contra todas as possibilidades, em partida diante do Argentinos Jrs, o Flu se viu obrigado a participar de uma batalha campal após o apito final. Se os argentinos tivessem com a vaga, ia ter briga? Ah, os argentinos...esses não sabem perder! Ou melhor, recentemente, não se acostumaram a perder. Tirando o Boca, que monopolizou a maior competição das Américas durante os anos 2000 e o Estudiantes, campeão em 2009, os argentinos só entram na Libertadores pra fazer fiasco.
Enquanto isso, os brasileiros, só nesta década, foram a final com São Paulo e Atlético-PR em 2005, São Paulo novamente e Internacional em 2006, Grêmio em 2007, Fluminense em 2008, Cruzeiro em 2009 e de novo o Inter, campeão em 2010. Os brasileiros empilharam argentinos nos seus caminhos até a decisão. No final das contas, às vezes pode até prevalecer a força da camisa e o sangue quente dos argentinos, como foi em 2000, 2001, 2003 e 2007 com o Boca e em 2009 com o Estudiantes. Mas a regularidade da superioridade do futebol brasileiro incomoda os argentinos, principalmente aqueles que não estão acostumados a ganhar, como o Argentinos Jrs.
O clube que revelou Maradona, o rei dos “barraqueiros”, fez questão de mostrar porque faz questão que a imagem do clube esteja tão associada à imagem do Pibe, e fez igual. Um ato típico de Maradona. Um barraco generalizado. O goleiro Navarro, que papou um frango inacreditável nos 90 minutos, quis compensar sua torcida agarrando jogadores adversários em um mata-leão. Esqueceu que o que valeria a pena era ter agarrado o chute de Fred, quando teve a chance. Escudero, que foi abraçado pelos jogadores do Flu após a derrota, foi covarde, e agrediu quem estava pela frente.
A questão é que o futebol brasileiro evoluiu muito nos últimos anos, e a continuação desse crescimento é inevitável. À medida que a economia brasileira se fortalece e bilhões de reais são injetados no futebol, as economias dos outros países lutam para manter-se estáveis, sem muito sucesso, e o futebol sofre as conseqüências. O Brasil não tem culpa de estar melhor. Enquanto Luis Fabiano, Fred, Ganso, Neymar, D’Alessandro, Ronaldinho Gaúcho, Deco e outros jogadores de nível mundial povoam o Campeonato Brasileiro, os clubes argentinos estão fazendo uma força descomunal para se renovarem e renovarem sua seleção. É a solução. E eu, concordo. E torço para que essa nova geração venha sem esse ranso de não saber perder, de apelar para a pancadaria. E isso vale também para paraguaios, uruguaios, chilenos, e...brasileiros!
A Ressacada presenciou também um episódio lamentável. Loco Abreu partiu para cima dos adversários e começou a pancadaria após a eliminação do Botafogo diante do Avaí, na Copa do Brasil. Não pense que a briga aconteceu porque o camisa 13 do Fogão é uruguaio, porque os brasileiros, que santos também não são, continuaram, e vai, gostaram da briga! Uma dica: sempre que começar a pancadaria, dá uma olhada no goleiro reserva. Renan, do Avaí, viveu seu dia de Anderson Silva e aplicou golpes marciais em quem apareceu na sua frente. Parece que a falta de minutos de jogo desperta uma vontade incontrolável no camisa 12 em passar algum tempinho chutando, socando e esmurrando seus adversários.
Não sou falso moralista. Quem já jogou futebol, até mesmo aquela peladinha de fim de semana, sabe que o sangue ferve. Quando sua reputação e a reputação do seu time estão em jogo, expostas para milhares de pessoas, aí é que deve ferver mesmo. Só que esse sangue latino que não aceita perder não pode ferver ao ponto de prejudicar o espetáculo e de desmoralizar o nosso futebol, a nossa diversão. Se eu quisesse ver briga, assinaria o UFC.